segunda-feira, 8 de maio de 2017

Sobre cadernos e linhas

Nunca gostei de pautas em cadernos. Linhas retas em que somos obrigados desde crianças a seguir.
Regras e mais regras. Ande na linha, siga a linha, o pensamento é algo linear. Os carros andam de forma linear, retas. Minha letra sempre foi complexa e com temperamento próprio. As vezes iam para um lado, outras, para o outro. Ficavam pequenas e presas demais em meus cadernos. Sempre bagunçadas, aspecto de sujas. Pulavam as linhas, queriam outros rumos. Foi quando decidi usar cadernos sem pautas. As letras corriam mais livres, soltas. Muitas vezes nem eu conseguia decifrá-las. Elas eram enigmas feito a esfinge. Letras tímidas como a minha personalidade, curva. Essas sim, eu sempre gostei. Porque quando tem curva você pode ir para o outro lado. A curva é quando a chavinha pode virar e tudo pode acontecer. A curva é o oito, o nove ou o seis, números cabalísticos que falam de mudança. O linear é confortável, padrão. Ele também é mais fácil, dói menos. É saber a reta a seguir, o caminho que possivelmente já foi direcionado. O resto é imprevisível, desconfortante, desafiante. Decifra-me ou te devoro. A curva pode ser uma montanha russa, uma caixinha de surpresa a cada esquina. Perigosamente deliciosa.


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