sexta-feira, 24 de março de 2017

Entre cigarros, estrelas

Ora direi ouvir estrelas...
Sistemas estrelas inteiros que falam sobre mim. Não sei se acredito em astros, muito menos em astrologia. E desconfio, seriamente, se o homem algum dia pisou realmente na lua. Minha mulher disse que a astróloga previu a minha chegada. Ela é de câncer e eu sagitário. Não vejo ligação entre água e fogo, não sei dizer se realmente sou o que ela acredita que eu seja. Sempre atrasado e sempre confuso. Parei pra fumar mais um cigarro, quer dizer... Eu estou tentando parar, então esse tem que ser um dos únicos do dia mesmo. Mas a única certeza que tenho é que sou agnóstico e não acredito em astrologia. Pra mim sempre foi irreal outras formas de vida, ao nosso redor. E ainda desconfio que o mundo não é redondo, porque o para cima ou para baixo seria extremamente confuso no meu entender, e mesmo que exista essa coisa chamada gravidade, que nos prende, eu ainda tenho em mim um sentimento de liberdade tão intenso que acho que nenhuma gravidade conseguiria me prender... Nem ela, nem aquele sorriso, nem minha família. Acho que a gravidade é algo que faz parte da teoria de conspiração. Não gosto de me sentir preso, simples assim. Acho que foi por isso que parti. E por mais que aquele sorriso lindo me acompanhe e doa no meu peito, eu não consigo voltar. E vou lhe dizer mais, pera aí, mais um cigarro... Isso é difícil de dizer e me incomoda. Preciso de um trago. E vou lhe dizer mais, minha fome dessa tal liberdade é tão grande, que eu queria engolir de vez todas as estrelas, todo esse sistema estrelar irreal e surreal que o homem criou para nos aprisionar.
E conversamos toda a noite, enquanto, a Via-Láctea como um palio aberto, cintila. E ao vir do sol, saudoso e em pranto, inda as procuro pelos céus desertos.

Sim, decidi partir. Não para fugir, eu não tenho medo de enfrentar. Mas preciso encontrar a minha verdade em algum lugar maior que uma porta ou uma janela. E se essa fome, essa fome de leão, não passar, aí sim eu vou sucumbir e perder o que resta de existência humana que sinto dentro de mim. Se eu puder me enxergar no outro, e quem sabe finalmente que diabos eu vim fazer aqui. Sim, aqui, nessa terra, aqui, na sua frente, enquanto ainda tenho uma vontade árdua de fumar mais um cigarro. Eu não sei porque Camões me persegue e impregnou em mim o seu poema. Ele ecoa. Sim, eu sou teimoso, eu sei. Eu estou confuso eu sei. Mas quero saber ainda mais. Afinal, quem eu sou? Ninguém vai me contar e eu preciso saber.