sexta-feira, 17 de maio de 2013

Uma homenagem a minha caravela


Me joguei no mar numa caravela. Se era um sonho não sei, mas parecia real. As ondas estavam fortes e batiam sobre o barco, mexendo, puxando, me enfrentando. Ri de nervoso para não chorar. Chorar às vezes dá vergonha, coisa de fraco. Limpei a face com a camisa e vi sangue, meu rosto estava todo coberto por ele. Limpei novamente e nada estava lá. Mais uma viagem. Segui em meio à tempestade que se formava sobre a minha cabeça. O negro céu me fazia rir de tanto medo, era a minha única reação. Eu era uma pedra de gelo por dentro. Parecia um bêbado com o corpo sendo jogado de um lado ao outro. É uma merda perder o domínio de si. Cantei alguma coisa que não consegui ouvir, queria afastar os maus espíritos de perto de mim. Cantei pra jogar a minha alma pra boca. Eu sei que ela estava lá, em algum lugar. Mais uma onda bateu contra o barco, dessa vez ela me arremessou ao chão. Bati contra as costas no mastro. Foi o tempo de segurar na corda. Fiquei ali preso, não queria mais levantar. “Por favor tempestade, passa!” - Pensei em oração. A vontade era “termina logo com isso, me deixa morrer”. Mas não passava, não passava, continuava ali, me fazendo mal, me fazendo sofrer. Depois de ter vomitado, de estar todo molhado, com frio, tonto e o corpo dolorido, eu sabia que ia morrer. Só que dessa vez não estava mais desejando isso. Em algum momento percebi que em alguma hora isso ia passar. Me agarrei na corda e a prendi contra a cintura. O pior é que não tinha muito o que fazer a não ser sobreviver a tempestade. Sobreviver, sobreviver, sobreviver cansa. Onda após onda. Medo contra medo sendo lançado sobre mim. Dessa vez limpei o rosto com as mãos tremulas, sei que tinha sangue. Eu tinha batido a cabeça em algum lugar. E o barco continuava lá, resistindo. Para mim passaram-se anos até que percebi o céu aberto. Nunca havia visto um céu tão estrelado como aquele, parecia sorrir pra mim. E eu pensei “filhos da puta”.