domingo, 4 de março de 2012

Pelas ruas

Um dia desses, quando me deparei, vi que tinha morrido. Olhei para o lado e não estava mais lá. Ninguém se lembrava de mim. No desespero fui de pessoa em pessoa em plena Avenida perguntando se alguém um dia lembrou. Nenhum sinal. Mesmo aquele senhor da banca de jornal... Nunca me senti tão infeliz na minha vida.
Mas se morri, e ninguém se lembrava de mim, talvez fosse a chance de recomeçar do zero. Ser quem eu quisesse ser até parecia uma boa ideia. Mesmo assim como é difícil se libertar. Queria ter o mesmo corpo, as mesmas manias e vícios, bons e ruins. Então fiquei com raiva de mim e do mundo e perambulei como um mendigo, vivendo de esmolas e caridade.

Meu cabelo caiu, minha alma se perdeu até que esqueci meu nome. Andava com os cachorros, só eles me entendiam. Puro instinto. Virei puta e nunca gozei.
Virei, virei, virei... Até que parei de virar...
Morri, morri, morri... Até que cansei de morrer...
Inventei um nome tão sem sal...

"Perder-se também é caminho." Li isso em uma parede branca escrito em tinta preta. Mas foi conversando com uma velha bêbada que decidi largar do vazio. Ela era eu amanhã. Uma visão.
- Não, eu não quero morrer. Mas por favor, Deus, se for para morrer que seja por uma coisa que valha à pena e não para o vazio!

II

E eu podia ter inventado mil estórias como àquela, mas elas já eram sem graça e eu na minha desgraça não via nenhum prazer naquilo.

III

Mas que tolice a minha... A velha era eu! E eu era uma bêbada conversando com o vento, falando para fora, para quem quisesse ouvir. Uma esquizofrênica por vontade própria.
Lembrei de anos antes, um dia, falando para alguém cujo nome o tempo apagou... "porque fiz eu dos meus sonhos a minha única vida".
Nunca entendi o que me levou a isso. Não sei ao certo o motivo. Sei que simplesmente "virei" talvez por ter sido jovem e sonhar demais com uma utopia romântica. Algumas pessoas nascem para sofrer de amor e não recebê-lo.
Ismália minha querida, agora eu te entendo bem. Queria ter tido a coragem ou a covardia que teve. Queria ter pulado antes que os sonhos me consumissem e a realidade se perdesse (ou simplesmente aparecesse).
E agora eu sei... Eu sou saudade de alguma coisa que nunca tive e para ser sincera nem sei se vou ter. Mas continuo apenas sendo saudade e lutando contra isso.

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