quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O voo do coleirinho


Todo dia ele acordava cedo e esquentava a água do café. E do canto da sala tirava uma gaiola com um coleirinho. Caminhava até a varanda, onde pendurava a gaiola no alto, num cantinho banhado pelos primeiros raios de sol da manhã. O coleirinho, um pássaro bem pequenino e delicado, começava a cantar. Batendo as asas, parecia feliz. Daí, os dois assobiavam juntos como se numa conversa de velhos amigos. O homem começava, o pássaro respondia e vice-versa. Ficavam assim por um tempo. Nas manhãs de chuva, o homem escolhia outro canto da varanda, num local mais confortável para o amiguinho de asas. E numa rotina metódica, guardava a gaiola dentro de casa assim que voltava do trabalho.

Foi assim por anos, até que os dois envelheceram. E, olha que no meio desse caminho muitas coisas aconteceram. O tempo sempre muda alguma coisinha mínima que seja. Mas, os dois continuavam juntos, até que um dia o homem adoeceu e como quem faz uma viagem longa, partiu. A primeira pessoa que sentiu, é claro, foi o coleirinho. Ninguém mais ligava pra ele, ele perdera o seu grande amigo e companheiro. Passou um tempo e ele, entristecido, parou de cantar. Só ficava quietinho no canto dele. Foi assim, por pouco tempo...

Até que numa manhã de chuva o coleirinho se encolheu no seu cantinho e dormiu...
Até que numa manhã de sol, o vento derrubou a gaiola, abrindo sua porteirazinha e o passarinho bateu asas e voou, voou pra longe, pra longe do frio, longe do silêncio, e foi cantar em algum lugar, junto daquele velho amigo.