A sensação que eu tenho é que eu nadei e nadei contra a maré, para investir em algo que eu pudesse acreditar, exatamente porque dentro de mim existe um lado que fala claramente que eu não mereço. E mesmo perdendo a força e o fôlego, e perdendo de mim as estrelas, os meus guias, que me disseram para parar de nadar, eu tentei e tentei. E como o impulso de vida é maior, derrepente eu parei para tomar ar. Mas, como cabeça mal criada eu sou, eu virei de novo, pro mesmo lado, tentando remar e dominar aquilo que a maré dizia que não era meu. Primeiro vieram os botos, meus ancestrais da água, depois as cobras, e depois as ondas me cuspiram e cuspiram novamente pra longe de mim. Mestres que ensinam a alunos que não entendem com disciplina. E quando eu fiquei descabelada sem saber para que lado era superfície descobri o poder de me transformar em peixe, em outra espécie, em um bicho qualquer, em toda a existência. Foi quando pude sentir, na ponta do meu dedo mindinho, o poder de um xamã.